Martín Fierro é um poema épico redigido conforme o falar do gaúcho divido em duas partes: "O Gaúcho Martín Fierro" escrito em 1872 e, "A Volta de Martín Fierro" de 1879.
O livro de José Hernández é um protesto contra as tendências europeizantes do presidente Domingo Faustino Sarmiento (1868-1874).
Sarmiento acreditava que para a "civilização" imperar na Argentina era necessário derrotar o gaúcho e, importar a "sociedade", a "cultura" e imigrantes da Europa para povoar o país.
Contra isso José Hernández rebelou-se. O manifesto do seu desagrado - o contrapondo ao "Facundo" de Sarmiento - foi "O gaúcho Martin Fierro".
Exilado em 1879, Hernández escreverá Martin Fierro em Santana do Livramento, no sul do Brasil.
Em “Martin Fierro” a figura gaúcho difere do paradigma do “monarca dos pampas” que o movimento tradicionalista oficial propagandeia a décadas. Na obra de Hernández temos o gaúcho como o pobre dos campos, como o perseguido:
"o gaúcho anda sempre fugindo. Sempre pobre e perseguido: não tem cova nem ninho como se fosse um maldito; porque ser gaúcho ... o ser gaúcho é um delito."
No Manual das Zonzeras Argentinas - um livro genial na desmistificação do pensar "colonizado" - Arturo Jauretche dirá que da identificação da "civilização" com a Europa e da "barbárie" com a América Latina surge uma racionalidade de "negação da América e afirmação a Europa". Essa é a matriz de uma mentalidade "colonizada", sempre pronta a copiar o que ontem vinha da Europa e o que hoje vem dos Estados Unidos da América; uma razão que ao voltar as costas à seu povo e sua cultura subordina-se as razões e aos interesses de outros: as razões e aos interesses do Norte.
A seguir, os primeiros versos do Martín Fierro:
1
Aquí me pongo a cantar
Al compás de la vigüela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena extraordinaria
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.
2
Pido a los Santos del Cielo
Que ayuden mi pensamiento;
Les pido en este momento
Que voy a cantar mi historia
Me refresquen la memoria
Y aclaren mi entendimiento.
3
Vengan Santos milagrosos,
Vengan todos en mi ayuda,
Que la lengua se me añuda
Y se me turba la vista;
Pido a Dios que me asista
En una ocasión tan ruda.
4
Yo he visto muchos cantores,
Con famas bien obtenidas,
Y que después de adquiridas
No las quieren sustentar:
Parece que sin largar
Se cansaron en partidas.
5
Mas ande otro criollo pasa
Martín fierro ha de pasar,
Nada la hace recular
Ni las fantasmas lo espantan;
Y dende que todos cantan
Yo también quiero cantar.
Link com o contéudo integral de Martin Fierro: http://webs.satlink.com/usuarios/c/cabas/mfierro/mfierro.htm
domingo, 28 de fevereiro de 2010
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